Estás à minha porta... Como sempre estiveste, uma ou outra vez tentaste entrar no hall e uma ou outra vez mandei-te embora ou tu tiveste que ir...
Estares à minha porta assusta-me, deixa-me com suores frios e traz-me lembranças em tons de vermelho; como uma camisola que fazes questão de lembrar, aquela que está no armário a ganhar pó, porque a moda muda.
Tudo muda: muda a moda, a vida, as responsabilidades... Só não muda a sensação de ter um assunto inacabado, de ter uma pendência que vai sendo adiada; é tudo uma questão de timming. Aquele que nunca tivemos, não sei como se faz para acertar o nosso relógio, não vinha com instruções e eu tenho medo de mexer. tenho medo de o acertar, porque se depois se volta a desregular é bem pior. Sabias que a mente humana sente mais falta do que já teve, do que aquilo que nunca teve?
É por isso que tenho saudades daquele tempo em que me dizias "estou à tua porta" e sentia as borboletas na barriga, asas nos pés e a cabeça nas nuvens.
E há muita coisa que gostava de te ter dito... Não quero falar contigo de trabalho, não quero saber para onde vais a seguir, porque na verdade nunca saiste daqui, daquele canto "onde só chega quem não tem medo de naufragar". Quero saber se ainda pensas em mim, se tens saudades minhas, porque me deixaste, porque não voltaste antes e porque é que não estamos juntos. Quero saber o que sentiste quando me reencontraste no restaurante depois de meses e meses sem nos vermos, se me achas mais bonita, mais gorda, mais magra ou mais cinica... Quero saber as tuas esperanças e medos, o que queres para 2008, quero vasculhar o teu intimo e remexer na tua alma; já não sei de cor cada lugar teu, desde que te desataste de cada lugar meu...
Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei
Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só....
Mafalda Veiga
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